"CAUSOS DE MINAS" 

 

 

COMER O MORTO

 

(Texto extraído do Dicionário Fanadês, Jequitinhonhês, Mineirês de Carlos Mota).

 

Ir ao velório tão somente com o propósito de se empanturrar. Os velórios fanadenses, a exemplo de algumas outras regiões, são um misto de dor e festa. Isso faz certo sentido. Wallace Stevens, no poema Sunday Morning (Manhã de Domingo), disse que a “A morte é a mãe da beleza; por isso, dela, e somente dela, é que virá a realização de nossos sonhos e de nossos desejos.”

 

Morreu, em Santa Joana, distrito de Itamarandiba, um caminhoneiro muito querido, e logo sua casa se encheu de parentes, amigos, vizinhos e, principalmente, de um montão de colegas de volante, vindos sobretudo das redondezas. Sinésio, um deles, percebendo o estado de penúria da despensa, logo organizou uma vaquinha para a compra dos comes e bebes que iriam animar o velório. Um dava dez, outro cinco, quando surge a viúva e tenta entregar a Sinésio uma nota de dez, que é imediatamente devolvida, com esta argumentação:

 

-A SENHORA, NÃO... A SENHORA JÁ ENTROU COM O PRINCIPAL, O DEFUNTO!

 

OUTRO CAUSO!!!

Estava em Baependi, minha terra natal e de onde saí há oito anos. Como de costume, levantei-me bem cedo e fui tomar café na padaria do “Maninho”, fundada em 1.927, valendo trazer à tona que fui atrás também de uns bons dedos de prosa, já que os clientes e funcionários sempre me foram agradáveis.

Neste dia, estava de conversa com o meu ex-professor de música (violão), Márcio José Mângia, carinhosamente conhecido também como “Tio Pá”, Como a cachorrada anda por todos os lados, surgiu então assuntos atinentes. No meio destes, o mestre me contou uma bela história sobre certo cão: Após ter tocado na noite, sentou-se na porta de uma pousada no centro de Baependi, local onde estava morando, quando o Preto se aproximou. Márcio, não hesitando, pegou o violino e tocou. Desde então, o cachorro tornou seu amigo fiel, eis que a música também havia lhe consolado (era um cão de rua).

Daí meu amigo, com toda sua sensibilidade, fez um tributo em forma de poesia ao novo amigo, o qual segue abaixo:

                                                           

                                                

FIEL AMIGO,

"O Preto"

                                                                                 (cão asmático das ruas de Baependi).

                                                                                 

Entre os fiéis ouvintes

Que tenho,

Tu és o mais fiel deles.

Mal a seresta terminara

A que te fiz

Agradecidamente,

Continuaste me seguindo

Pelas ruas

Tortuosas,

Solitárias,

Da nossa Baependi. Tu, “Preto”,

Meu fã e amigo,

És,dos amigos,

O mais fiel !

Enquanto existires,

Não estarei só.

 

 

De teu violinista

Márcio José Mângia